Sabe aquelas reflexões que surgem de repente e parecem grudar na nossa cabeça igual a música “Você partiu meu coração”? Pois é… Outro dia uma pergunta me pegou de surpresa durante um treinamento sobre agilidade para uma turma de Portugal.
Eu havia acabado de explicar a origem do Manifesto Ágil e elaborado um pouco sobre o que aconteceu depois quando um aluno me bombardeou com a pergunta:
Na sua opinião, quais os rumos da agilidade de agora em diante?
Nesse momento tentei retraçar o caminho que percorremos até aqui, e o debate que se seguiu começou com uma análise deste caminho para identificar indícios que pudessem me ajudar a esboçar o que vem pela frente.
Se tudo começou no desenvolvimento de software, como chegamos onde estamos?
Eu já me fiz essa pergunta milhares de vezes. E já vi muita gente brava porque hoje em dia temos muitos agilistas que nunca escreveram uma linha de código na vida. Bem, confesso que já fiquei bravo com isso também.
Mas não mais.
Houve uma época em que era preciso convencer as pessoas de que investir tempo em testes automatizados era de fato uma boa idéia.
E era difícil, muito difícil.
Servidores de integração contínua, deploys automatizados, documentação enxuta… Todos estes conceitos enfrentaram forte resistência durante um bom tempo. E era ali que os agilistas investiam a maior parte do seu tempo e esforço: ao lado dos desenvolvedores, ajudando-os a criar mecanismos para diminuir a dor causada por mudanças nas especificações do software.
Mas em algum momento algo mudou.
Talvez o próprio mercado tenha dado cabo das empresas que não conseguiram se adaptar às boas práticas de desenvolvimento de software, ou talvez a internet e as redes sociais tenham ajudado a conscientizar as pessoas sobre a importância da excelência técnica e automação das tarefas mais passíveis de falha humana.
Esta transição trouxe à luz uma nova gama de desafios. Basicamente, se Wagner Moura fosse um agilista esse seria o momento em que ele migraria do filme Tropa de Elite para o Tropa de Elite 2, pois perceberia que o inimigo agora é outro.
E quem é esse novo inimigo?
Essa é a pergunta de um milhão de dólares. Na verdade, a resposta para esta pergunta costuma valer muito mais que isso.
Os novos problemas organizacionais não são tão explícitos e padronizados quanto os que costumávamos ter a nível operacional. Não temos mais uma receita que possa ser prescrita para resolver estes problemas e precisamos analisar caso a caso.
É por isso que o Scrum Guide que chegou a ter 19 páginas e recomendar ferramentas específicas para o acompanhamento de cada ciclo passou a ter apenas 13 páginas das quais 5 falam exclusivamente sobre a teoria e os conceitos principais do framework.
A automedicação sem um diagnóstico pode gerar efeitos colaterais piores que os próprios sintomas. E isso se torna mais verdadeiro a cada passo que a agilidade dá em direção ao desconhecido.
Mas então eu posso esquecer a parte operacional?
Nem toda organização conseguiu de fato sair do primeiro “Tropa de Elite”. Mas mesmo estas já conseguem visualizar os próximos possíveis problemas se avaliarem cenários já desbravados por outras organizações. Aí é preciso trabalhar com “um olho no peixe e um olho no gato”.
No fundo, a agilidade tenta aprimorar o sistema organizacional. Tudo começou na parte mais operacional, mas aos poucos descobrimos que para mudar o sistema precisaríamos trabalhar também em áreas mais distantes do desenvolvimento de software.
E como diria Wagner Moura, o sistema é… difícil.
Ps: Só para esclarecer: não temos de fato inimigos, e essa foi apenas uma figura de linguagem. :)
E agora? Quais os rumos da agilidade? was originally published in emergee on Medium, where people are continuing the conversation by highlighting and responding to this story.